domingo, agosto 06, 2006

Marcas da vida de um neonato

"Ah, nós que ainda nos chamamos de cristãos, somos todos, do ponto de vista cristão, tão mimados, tão distantes daquilo que o Cristianismo realmente requer dos que querem se chamar de cristãos - mortos para o mundo - que raramente alcançamos esse grau de ardor”.- Sören Kierkegaard

O que é ser cristão? Se fossemos responder essa pergunta certamente responderíamos que é crer na morte sacrificial de Jesus Cristo na cruz do Calvário em favor de pecadores, Sua ressurreição em corpo físico bem como Sua natureza divino-humana durante a encarnação.
Penso que esse é o consenso entre os auto denominado evangélicos brasileiros.

Mas se levarmos em conta o que a Escritura afirma na primeira carta de João: “Nisto são manifestos os filhos de Deus, e os filhos do Diabo: quem não pratica a justiça não é de Deus, nem o que não ama a seu irmão”.(1João 3:10)
O apóstolo vai mais além: “Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama permanece na morte”. (versículo 14 do mesmo capítulo).
A prática da justiça e o amor ao próximo são marcas do novo nascimento. Ele reforça ainda que sabemos que passamos da morte para a vida se amamos aos nossos irmãos.

Alguém pode imaginar que esse amor se refere a um sentimento mas na maioria, senão sempre, que o Novo Testamento se refere a amor, está se referindo a atitude. “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos”. (João 14:15)

Creio que a pergunta que devemos fazer é: eu tenho amado como a Bíblia ordena que eu o faça?
Quando preciso ouvir aquele irmão meio chato da igreja, tenho parado para ouvi-lo por amor a sua vida ou tenho deixado de lado?
Quando vejo uma pessoa nova na fé querendo aprender mais da Bíblia, eu abro mão do tempo que passaria sozinho, com amigos ou namorada e vou discipular a pessoa ou deixo para outros fazerem.

Vou além, o que fazemos quando algum mendigo entra em nossa igreja fedendo e com mau hálito? Recepcionamos o mesmo? Damos algo para ele comer? Encaminhamos o mesmo para algum abrigo cristão se esse for o interesse dele ou deixamos outra pessoa se preocupar com isso?

Note que João vai mais além: “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e nós devemos dar a vida pelos irmãos. Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitando, lhe fechar o seu coração, como permanece nele o amor de Deus?” (1 João 3:16, 17)
Devemos dar a vida por nossos irmãos. Mas como dar a vida pelo irmão que eu nem “suporto em amor”? Às vezes, não queremos nem nos aproximar de determinados irmãos, o que dirá de dar a vida por eles?

Será que temos de fato vivido como cristãos verdadeiros?
Temos demonstrado com nossos atos que somos Dele?
O que é isso que temos vivido e chamamos de cristianismo??
São muitas as perguntas pois a intenção é mesmo a reflexão.
Penso que a alegria do servo é a agradar a seu Senhor.

Basta de teoria sem prática, de teologia sem Vida, de muito discurso e pouca ação. É preciso que as pessoas nos olhem e vejam mais do que um grupo de pessoas com regras mas vejam sim pessoas que procuram agradar a Deus em tudo, inclusive na prática do amor ao próximo. Na atenção ao necessitado, no amparo aos idosos.

Obvio é que a prática de boas obras não nos levará ao céu mas, deveria ser normal para o homem regenerado ajudar o irmão que precisa de ajuda e infelizmente não é isso que observamos na maioria de nossas igrejas.
Ouvi uma vez que Gandhi dizia que queria fazer o que os cristãos pregavam mas não fazer o que eles faziam.

Visto que a santificação é um processo inevitável na vida do verdadeiro cristão, que possamos buscar a prática do amor ao próximo (essa afirmação é redundante pois o amor é ação a meu ver).
“A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo”.Tiago 1:27
PS: me desculpem o tom de desabafo do texto.

3 comentários:

Juan de Paula disse...

João,
sua postagem está muito boa e em momento oportuno!

O debate acadÊmico e abstrato tem o seu lugar e é necessário, porém o povão que senta nos bancos de nossas igrejas e que não tem acesso aos nossos blogs e não conhece alguns termos técnicos da teologia seja ela reformada e confessional, seja ela aberta precisa conhecer a potÊncia da doutrina em que cremos através de nossa prática de vida.

Epistolas como Tiago e 1 João nos chamam a um cristianismo prático, alicerçado em uma fé que foi revelada na história, porém que nos exige uma separação dos sistemas de valores articulados por Satanas e suas forças e separados para glorificar a Deus na sua criação, com uma postura de vida cristã, imitando o Senhor (1 Co 11:1) e não agindo como pagãos (Mateus 6:25-34) ansiosos, agindo com dicotomia entre o sagrado e o profano (na igreja sou santo e quieto e fora dela coloco "minha fé na gaveta").

Recomendo aqui a excelente leitura: BOICE, J. Montgomery. Creio sim, mas e daí? São Paulo : Cultura Cristã, 1999.

Sermões e estudos práticos sobre o livro de Tiago, embora aplicado a cultura americana, é de grande valor.

Que Deus dê graça a Igreja que foi comprada com o Sangue de Jesus (At 20:28) amadurecer em fé e prática de vida!

Deus o abençoe e use seu blog sempre!
Juan

João de Séllos disse...

Meu amigo Juan,
Obrigado pelo comentário e pelo elogio.
Espero um dia conseguir escrever de forma mais acadêmica também!!
Mas de qualquer forma os acadêmicos (seja o seminarista ou o leigo autodidata) precisam vigiar para que o estudo da teologia não fique só na teoria e se deixem levar pela soberba.
Um abraço fraternal,
João

Anônimo disse...

João,
seus textos são academicamente bem fundamentados, rs!
Porém vc tocou no ponto, estudar é preciso, mas todo cuidado para não se deixar levar pela soberba intelectual e esquecer a práxis cristã.
Calvino era um estudioso de 1a linha, um acadêmico de alto gabarito, porém seus sermões eram breves e objetivos.
Lutero era extremamente "povão", escreveu o catecismo menor porque a turma na paróquia não sabia nada de doutrina cristã!
Os passos da reforma tem a ver com o estudo, mas nada a ver com a soberba, "nadica" de nada!

Deus o abençoe amigo,
Juan